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Afif: "Centro de SP terá um choque de ordem até 2030"

A transferência da sede do governo do Estado para a região central de São Paulo é uma das principais apostas da gestão Tarcísio para aliar eficiência fiscal à revitalização urbana.

O projeto, que prevê a unificação de mais de 60 prédios espalhados pela cidade em um único complexo no bairro de Campos Elíseos, promete uma economia anual de R$ 200 milhões aos cofres públicos e também um "choque de ordem" e desenvolvimento social na área, de acordo com Guilherme Afif Domingos, secretário especial de Projetos Estratégicos do Governo do Estado de São Paulo.

Em entrevista ao Diário do Comércio, Afif detalha os próximos passos dessa iniciativa, esclarecendo as razões técnicas e de mercado que levaram ao adiamento do leilão de concessão para o início de 2026.

Além da infraestrutura, Afif aborda temas cruciais para o ambiente de negócios, como a percepção do paulistano a respeito da segurança pública, a competitividade paulista na atração de investimentos e lança um olhar crítico sobre o futuro econômico do país, alertando para o possível aumento da carga tributária e seus reflexos nas urnas. Acompanhe:

 

Diário do Comércio - Quais as expectativas para a mudança da sede do governo de São Paulo para o Centro?

Guilherme Afif Domingos - A expectativa é muito positiva, pois trata-se de um projeto que possui grande valor, tanto pelo potencial financeiro quanto humano para a cidade. Sob o aspecto financeiro, a nova sede vai concentrar secretarias e órgãos estaduais em um único espaço. Essa nova sede irá concentrar todo o governo paulista, que conta com mais de 22 mil funcionários hoje distribuídos em 60 prédios em diferentes áreas da cidade. Com isso, vamos ganhar eficiência. Com as secretárias em um mesmo espaço, espera-se uma economia de R$ 200 milhões por ano aos cofres paulistas.

Pensando no lado humano do projeto, será uma revitalização completa e a região irá sentir esse choque de ordem até 2030. Muita coisa interessante irá ocorrer em torno desse projeto: teremos a abertura de um parque, com a retirada de muros e grades, e a habitação social em torno do Centro. Essa estrutura também terá espaço para comércios e serviços, para atender aos servidores. Onde há emprego, há gente. Com gente circulando, há vida, movimento e segurança. A requalificação do bairro ainda inclui o restauro de 17 imóveis tombados e a ampliação em mais de 40% das áreas verdes.

O leilão da concessão do novo centro administrativo, antes previsto para o fim de novembro, ficou para 2026. Qual o cronograma para o próximo ano?

Afif - Estamos aguardando para publicar o novo edital com as modificações que foram sugeridas. Mas eu tenho um prazo legal para isso acontecer. Estamos nos esforçando para ver se conseguimos dar início (ao leilão) ainda no mês de janeiro. O mais tardar, em fevereiro, porque queremos ter o contrato assinado até o mês de março, para então dar início aos processos de desapropriações, desocupações e reencaminhamento das famílias que estão sendo deslocadas. O ano de 2026 será dedicado a isso. Só a partir de 2027 é que teremos um trabalho de obra mesmo. O plano prevê obras com duração de três anos e a mudança completa da estrutura administrativa para o Palácio dos Campos Elíseos em 2030. 

 

O que motivou esse adiamento? Foi um pedido das próprias empresas?

Afif - Isso, as empresas têm uma certa insegurança na questão da desapropriação na área de interesse social. E nós estamos estudando exatamente como isso poderá ser feito em vez de delegar essa tarefa 100% para o concessionário. Entendemos que, quando se trata de interesse social, é preciso muito cuidado e embasamento técnico. Pedidos dessa natureza são comuns em projetos de grande porte e a modelagem vem sendo ajustada para atender às exigências de mercado. O importante a ser dito é que o Estado irá assistir e acompanhar esse processo como um todo para ganharmos tempo lá na frente e evitarmos possíveis conflitos.

 

Os indicadores de segurança apontam para uma melhora em São Paulo. Ainda assim, a questão da segurança pública é um dos principais problemas da cidade para o paulistano. Como é possível avançar nisso para além dos números?

Afif - Diria que o nosso grande problema é a sensação de insegurança. A segurança melhorou, mas ainda o paulistano, o paulista e o brasileiro, em geral, sentem uma situação de insegurança por conta de um papel muito ativo e infiltrado do crime organizado. E para combater esse sentimento não adianta partir para uma batalha campal. Temos que usar a inteligência e o processo Follow the Money, aquela expressão que sugere que, num esquema de corrupção, o dinheiro deixa rastros que muitas vezes nos mostram onde está o cabeça disso tudo. Hoje temos uma grande operação policial na rua, exatamente para poder fiscalizar a lavagem do dinheiro e chegar na cabeça do crime. Então, a Polícia de São Paulo está bem aparelhada e hoje bem incentivada a fazer isso. Até então, as polícias eram sempre relegadas a um segundo plano. Não mais.

 

Nos últimos dias, o TikTok anunciou um investimento de R$ 200 bilhões no Ceará para  construir um data center. A General Motors também escolheu o Ceará para a sua produção de veículos elétricos no Brasil. Quais são os investimentos e os planos de São Paulo tanto para atrair como para reter empresas e investimentos desse porte?

Afif - A infraestrutura que São Paulo oferece é o que qualquer empresa procura. O Estado se vende por si só com seus atributos, é um cardápio de infraestrutura que poucas regiões do país têm e, por isso, São Paulo é sempre uma preferência natural. Outras regiões têm que fazer um esforço fiscal de atração para essa escolha valer a pena. A agenda de 2025 mostra que somos competitivos. Falando em São Paulo como cidade, a regeneração do Centro, a evolução dos indicadores de segurança, o impacto da mudança do novo centro administrativo para a área central mostram o quanto estamos bem alinhados em estratégias.

 

Sobre o cenário eleitoral de 2026: a reforma tributária pode ter algum impacto no resultado das urnas?

Afif - Esse é um estudo que quero fazer. É preciso fazer uma imersão para entender o impacto geral disso, porque é tanta regulamentação, tanta modificação que nós perdemos a visão global dessa reforma. E vamos ficando apenas com visões setoriais. Então, vamos analisar globalmente. Do ponto de vista eleitoral, o governo federal pode se valer da ideia de modernização e focar nos benefícios futuros, como o cashback (devolução de imposto para os mais pobres) e a Cesta Básica Nacional com alíquota zero. Já a oposição deve focar no medo da inflação futura e no setor de serviços, que é o setor que provavelmente terá aumento de carga tributária quando a reforma estiver plena. Na hora de votar, o brasileiro vai buscar em sua consciência como é que está a situação do bolso dele. Acredito que, da forma como estamos caminhando, com essa estrutura de gastos públicos, não vamos ter uma condição saudável da economia no ano que vem. E de uma coisa eu tenho certeza: vai aumentar o imposto.