
Investimentos de R$ 12,5 bi devem colocar o Porto de Santos entre os 20 maiores do mundo
O Porto de Santos, maior complexo portuário da América Latina, passa por um momento de transformação histórica. Com programa de investimentos da ordem de R$ 12,5 bilhões até 2029, o plano inclui reformas estruturantes, como a do Túnel Santos-Guarujá, o aumento do canal de navegação de 15 metros para 17 metros, requalificação viária do entorno, integração do porto com a cidade e até um sistema de monitoramento de controle de tráfego marítimo. O investimento promete colocar Santos entre os 20 principais portos do mundo, diz Anderson Pomini, presidente da Autoridade Portuária, além de garantir infraestrutura para atender ao crescimento médio de 10% ao ano na movimentação de cargas nos segmentos contêineres e granéis sólidos. Pomini palestrou nesta segunda-feira, 23/06, sobre os "Investimentos em andamento e programados no Porto de Santos" durante reunião do Comitê de Usuários dos Portos e Aeroportos do Estado de São Paulo (Comus), da São Paulo Chamber of Commerce da Associação Comercial de São Paulo (ACSP). Em meio a desafios logísticos e tensões internacionais, como a recém-iniciada guerra Irã-Israel, a expansão não é só resposta ao aumento da demanda, mas um esforço para corrigir décadas de investimentos insuficientes, agravados pelos anos em que se discutiu sua privatização. "Passamos 12 meses indo a Brasília para retirar o Porto do programa, pois a intenção de venda impedia investimentos e planejamentos futuros. Com a retirada e a delegação de competência pelo governo federal, ganhamos autonomia para conduzir projetos de longo prazo." Pomini afirmou também que o plano de investimentos em infraestrutura foi elaborado após seis meses de debates, levando em consideração o crescimento de cada uma das cargas, as necessidades que foram apresentadas pelo setor produtivo, pelo setor portuário e por toda a comunidade local, sem prejuízo para o dia a dia da operação, para "entregar um porto preparado para o futuro e de acordo com os gráficos crescentes de movimentação de todas as cargas." Hoje, Santos movimenta 30% da corrente comercial brasileira, segundo Pomini. No ano passado, o porto movimentou 180 milhões de toneladas e a previsão para 2025 é de movimentar 200 milhões de toneladas. Essa meta para 2025 estava originalmente prevista para 2040 - o que indica um crescimento muito mais rápido do que o esperado, destacou. Citando a construção da Via Anchieta, projetada há 80 anos, período em que o porto movimentava 4 milhões de toneladas, o presidente da Autoridade Portuária lembrou que hoje movimenta 50 vezes mais. E com a mesma infraestrutura de oito décadas. "Nós avançamos com o modal ferroviário, que hoje representa 34,5%, e estamos estudando o modal hidroviário, mas ainda estamos muito aquém", disse. "O porto cresce, o mercado avança, a infraestrutura se desenvolve, mas os modais, a Terceira Pista (da Rodovia dos Imigrantes), têm de acompanhar esse crescimento, pois o porto é apenas um elo da cadeia logística." Embora a principal carga movimentada seja do agronegócio, Santos é um hub multipropósito onde "cargas competem por espaço", afirmou. E a falta de janelas de atracação de navios é um desses desafios logísticos, conforme já relatado pelo Diário do Comércio. Atualmente, o Porto de Santos opera próximo ao seu limite de 6,2 milhões de contêineres, movimentando cerca de 5,5 milhões. Com o leilão do terminal Tecon-10, prevista para ser a maior área de movimentação de contêineres da América do Sul, a capacidade saltará para aproximadamente 10 milhões de TEUs (medida padrão de contêineres de 20 pés) - o que deve elevar o porto da 39ª para a 20ª posição no ranking mundial de movimentação. "Se fosse em tonelagem, já estaríamos entre os 10 maiores", disse Pomini. Mudanças estruturantes Apesar de ser uma empresa superavitária e com boa governança, o Porto de Santos precisa lidar com "o desafio da ineficiência burocrática, que limita a execução orçamentária." Em 2024, executou apenas 15% do orçamento previsto, ainda assim, um recorde para os últimos 10 anos de portos públicos (média entre 6% e 7%). Mas este ano será diferente, disse Pomini. "A execução de obras será 40% do que previmos no ano passado." Após um período de cinco anos (2019-2023) com apenas R$ 71 milhões investidos, o novo plano da Autoridade Portuária prevê um investimento de R$ 12,5 bilhões em uma janela de cinco anos, o maior investimento da história do porto. O porto possui R$ 3,6 bilhões em caixa, um aumento ante os R$ 2,2 bilhões do início da nova gestão. De olho na expansão física, também há estudos para incluir 12,6 milhões de m² de novas áreas, aumentando a poligonal do porto de 8 milhões para 20 milhões de m², pensando nos próximos 20 anos. "Essas áreas propostas são públicas, projetadas para o futuro e serão implementadas e entregues no prazo de 3,5 anos a 4 anos, no máximo", afirmou Pomini. Confira as principais obras previstas para o Porto de Santos Dragagem de aprofundamento - Dividida em três etapas, inclui a remoção de pedras no canal e o seu aprofundamento de 15 para 16 metros e, posteriormente, de 16 para 17 metros. O aprofundamento deve ser concluído até o segundo semestre de 2026. Este serviço, crucial para a previsibilidade da operação de navios maiores (incluindo porta-contêineres), será concedido ao mercado por 30 anos. Expansão da área do porto - Deve passar de 7,8 milhões para 20 milhões de m², incorporando áreas públicas subutilizadas, inclusive com projetos sociais para reassentamento de 5 mil famílias que vivem em ocupações irregulares e combate ao crime organizado. Perimetrais - Reforma da Avenida Perimetral Margem Direita (trecho Alemoa), uma obra de R$ 30 milhões que será concluída até julho de 2026 e viabilizará a construção de viadutos para amenizar gargalos logísticos. A segunda fase da Perimetral Margem Esquerda (Guarujá), uma obra de R$ 800 milhões, com novos acessos e uma ponte estaiada, conectará com o projeto do túnel e o aeroporto. Túnel Santos-Guarujá - Projetado há 97 anos, este túnel de R$ 7 bilhões conectará as duas margens do porto, com 50% dos recursos vindos do Porto de Santos e 50% do governo do estado. O leilão está marcado para o próximo dia 5 de setembro e a obra promete gerar 5 mil empregos diretos na região. O túnel promete trazer impactos positivos no comércio local, no meio ambiente (reduzindo 70 mil toneladas de CO² anuais de caminhões) e na logística (reduzindo o tempo de trânsito de uma hora e 30 minutos para um minuto e 30 segundos). Parque Valongo - Projeto de integração urbana que transforma áreas degradadas no entorno do porto em espaços de lazer e turismo, conectando o porto à cidade. VTMIS - Sistema de Informação de Gestão de Tráfego de Embarcações, na sigla em inglês. Trata-se de um sistema que centralizará o controle do tráfego de navios, informações meteorológicas e outras operações portuárias, atualmente dependentes de setores privados, para a Autoridade Portuária. O investimento previsto é superior a R$ 100 milhões. IMAGEM: Cesar Bruneli