
Efeito Busca Busca acelera abertura de lojas no Brás
Um dos termômetros de desempenho de um bairro comercial é o movimento de abre e fecha de lojas. Se o saldo é positivo, provavelmente o consumo no local vai bem, e vice-versa. Considerando esse indicador, pode-se dizer que um dos bairros comerciais mais tradicionais de São Paulo, o Brás, que se desenvolveu com a chegada de imigrantes italianos, vai bem. Após registrar mais fechamentos do que aberturas de lojas por três anos, 2020, 2021 e 2022, o Brás e o seu vizinho bairro do Pari estão com saldo positivo de número de lojas desde 2023. No setor de atacado, em 2023, o saldo foi positivo em 329 estabelecimentos, em 2024, em 421 e, no primeiro semestre deste ano, em 237. Se o número do primeiro semestre deste ano se repetir no segundo, o saldo positivo neste ano deve ser ainda maior do que o do ano passado. No setor varejista, os números também são positivos, com 215 lojas novas em 2023, 474 em 2024 e 926 no primeiro semestre deste ano. Os números têm como base dados da Receita Federal e foram levantados pela Hoff Analytics, empresa especializada em colher e analisar dados do ecossistema da construção civil. De acordo com a Hoff, os bairros do Brás e do Pari possuem 4.695 empresas atacadistas ativas, das quais pouco mais de 2.700 faturam mais de R$ 4,8 milhões por ano. Pouco mais de mil empresas já faturam de R$ 361 mil a R$ 4,8 milhões por ano e 833, de R$ 81 mil a R$ 360 mil. No setor varejista, são 16.628 empresas ativas, das quais pouco mais de 3.800 possuem receita maior do que R$ 4,8 milhões por ano. Pouco mais de 5.000 empresas faturam de R$ 81 mil a R$ 360 mil anualmente e cerca de 2.700, de R$ 360 mil a R$ 4,8 milhões por ano. O Brás, que começou com a imigração de italianos e, em seguida, de armênios, gregos, bolivianos, hoje está atraindo cada vez mais chineses. No setor atacadista, das 26 empresas que possuem estrangeiros na sociedade, quase 42% são formados por chineses, 11% por sócios de Bangladesh e 11% por libaneses. No caso do setor varejista, das 11 empresas que têm sócios de fora, quase 92% têm origem chinesa. Sócios da Indonésia são 8%. Os descendentes de chineses e de outros países que são sócios de estabelecimentos estão fora desses números, de acordo com Wesley Bichoff, fundador da Hoff Analytics. Para a Alobrás, associação que reúne os lojistas do Brás, o crescimento do comércio na região está relacionado com o fenômeno Busca Busca, comandado por Alex Ye. O empresário chinês, conhecido como ‘chefe do benefício’, ficou famoso no TikTok e no Brás ao mostrar a cara e os produtos que comercializa com preços que considera imbatíveis. A loja fez tanto sucesso que acabou inspirando outros comerciantes a ponto de o próprio Alex levá-los para lotar quatro andares do shopping Plaza Polo, no Brás. “É o efeito Busca Busca, que levou vários comerciantes para o bairro, muitos deles trazendo produtos importados, desde utensílios domésticos até brinquedos. O chinês trading está fazendo a diferença”, afirma Lauro Pimenta, vice-presidente da Alobrás. O Brasil, por razões políticas, diz ele, está se distanciando dos Estados Unidos e se aproximando cada vez mais da China, tornando-se um parceiro mais relevante. “A China tem de escoar os produtos e o Brás está dando essa oportunidade também pela capacidade de comunicação do Alex”, diz. Fauze Yunes, presidente da Alobrás, lembra também que o bairro está mais seguro, tem mais policiamento e os lojistas estão com uma interlocução melhor com a Subprefeitura da Mooca. “Estamos percebendo um número maior de pessoas no bairro, além disso, percebemos um equilíbrio entre a venda física e a online. Tem gente que gosta de comprar pela internet, tem gente que gosta de comprar nas ruas e tem gente que gosta dos dois”, diz Yunes. Os chineses, diz ele, escolheram o Brás para ter os seus negócios, o que acabou atraindo novos comerciantes e consumidores. “Espero que todo esse movimento não seja pontual e que o bairro continue crescendo, com um final de ano melhor do que o do ano passado”, diz.