
Entre os países com maiores cargas tributárias, Brasil é o que menos investe no bem-estar da população
O Brasil é o país que menos investe o valor arrecadado com tributos em ações para melhorar a qualidade de vida da sua população. E isso, mesmo com o aumento anual da arrecadação. Em 2024, entrou no caixa do governo federal o montante recorde de R$ 2,65 trilhões. A 14ª edição do Índice de Retorno ao Bem-Estar da Sociedade (IRBES), estudo elaborado pelo Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT), evidencia essa realidade. O levantamento analisou dados da arrecadação e o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) dos 30 países com as maiores cargas tributárias e o resultado mostrou que os brasileiros, pela 14ª vez, são os que menos sentem o retorno pelos impostos que pagam. O Brasil fica atrás de países da América do Sul, como a Argentina (11º) e o Uruguai (14º). O país também ficaria atrás do Chile que, por ter carga tributária bem mais baixa, não faz parte do ranking. “É notável e alarmante como países menores que o Brasil têm maior relevância no retorno dos impostos à sociedade do que nós, que possuímos maior arrecadação. São observações que ressaltam o cenário em que os brasileiros se encontram”, diz João Eloi Olenike, presidente-executivo do IBPT e autor do estudo. À frente do Brasil, que está na 30ª posição, os outros quatro países com pior desempenho em retorno dos impostos à sociedade são Itália (29º), Áustria (28º), Luxemburgo (27º) e Bélgica (26º). “Desde a primeira edição do estudo, o Brasil tem se mantido em 30º lugar. Isso demonstra que o valor arrecadado com tributos continua sendo mal aplicado no país. Apesar de termos uma carga tributária alta, digna de países desenvolvidos como Reino Unido, França e Alemanha, o IDH nacional reflete um desenvolvimento humano muito precário”, afirma Olenike. Bem posicionados Já as nações que mais retornam seus impostos em bem-estar à sociedade são Irlanda (1º), Suíça (2º), Estados Unidos (3º), Austrália (4º) e Israel (5º), que pela primeira vez figura entre os top 5 - na edição anterior, o país estava em décimo lugar. A melhora, segundo Olenike, envolve a redução da carga tributária no país e a melhora em seu IDH. Em 2022, Israel tinha uma carga tributária de 32,90% do PIB, que caiu para 29,70% em 2023. E seu IDH, que era de 0,915, passou para 0,927 em igual comparação. Movimento contrário acontece na Irlanda, apesar de o país ainda liderar o ranking. Em 2023, houve aumento na carga tributária no país, o que reduziu seu IRBES. A tendência para os próximos anos, segundo Olenike, é a manutenção do cenário atual, com eventuais alterações pontuais, como a observada com Israel. “Quanto ao Brasil, enquanto não tivermos cortes em gastos desnecessários, combate à corrupção e mais recursos destinados a áreas essenciais, dificilmente melhoraremos nossa posição. Só com menos desvios e mais investimentos em setores como educação, saúde, habitação, saneamento, pesquisa e segurança, poderemos corrigir essa rota.” IMAGEM: Paulo Pampolin/DC