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Enquanto Trump coloca barreiras, outros mercados se abrem às PMEs brasileiras

Com o possível tarifaço dos Estados Unidos, que ameaça sobretaxar produtos brasileiros a partir de agosto, micro e pequenas empresas (PMEs) podem se ver diante de novos obstáculos para exportar aos EUA. Mas especialistas lembram que o mundo é maior que esse destino: mercados como Chile, Portugal e Angola estão cada vez mais receptivos a produtos brasileiros, sobretudo quando oferecem diferenciação, inovação ou apelo regional.

Além disso, o Brasil possui acordos comerciais no âmbito do Mercosul e com países da América Latina, Europa e Ásia que reduzem tarifas e facilitam o acesso a mercados. Para quem está disposto a se planejar, adaptar e buscar apoio técnico, a exportação pode ser uma alavanca real de crescimento.

Novo estímulo tributário para o setor

Vale lembrar que recentemente o Congresso aprovou o Programa Acredita Exportação, que promete devolver parte dos tributos federais pagos por PMEs que atuam no comércio exterior. A proposta, que aguarda sanção presidencial, prevê a devolução de até 3% dos tributos federais (PIS/Cofins) sobre insumos usados na produção de bens exportados por PMEs.

Gustavo Reis, analista do Sebrae, vê impacto positivo da medida para o setor. Para ele, ao permitir a recuperação de tributos na cadeia produtiva, o programa pode reduzir custos e melhorar a competitividade internacional das pequenas empresas. “Com menor custo, os produtos se tornam mais atrativos para o comprador lá fora.”

Já para o assessor de negócios internacionais da São Paulo Chamber of Commerce da Associação Comercial de São Paulo, Mauricio Manfré, o valor médio devolvido para as empresas será de cerca de R$ 7 mil por ano. "Não compensa os altos custos logísticos, exigências regulatórias e a complexidade de acessar mercados estrangeiros", afirma. Segundo ele, o programa representa um avanço mais formal do que efetivo.

Quer exportar? Saiba por onde começar

- Avalie sua empresa

Antes de tentar exportar, é preciso checar a capacidade produtiva, estrutura logística e se o produto tem apelo internacional comprovado. Um bom desempenho no mercado interno é pré-requisito. “Exportar não deve ser saída para produtos com baixa aceitação no Brasil, mas um passo de expansão de algo já validado”, reforça Manfré.

- Faça pesquisa de mercado

Adaptar produtos e embalagens às exigências do país de destino é essencial, e pode envolver barreiras técnicas, sanitárias ou culturais. Certificações, tradução de rótulos, conformidade técnica e plano de exportação são parte da jornada.

- Planeje e prepare-se financeiramente

É preciso estar preparado para arcar com investimentos em adaptação de produtos, materiais de divulgação, participação em eventos, logística e certificações. Sem isso, o risco é alto.

Mercados mais abertos às PMEs brasileiras

Mesmo com o cenário desafiador nos EUA, outros países estão mais receptivos. Acordos comerciais e a boa imagem de produtos com identidade cultural brasileira abrem portas em diferentes regiões.

Chile, Portugal e Angola se destacam como mercados especialmente abertos a produtos diferenciados. O Brasil também mantém acordos que reduzem tarifas com países da América Latina, Europa e Ásia, uma vantagem competitiva para pequenos negócios com boa estrutura.

Produtos com maior potencial lá fora

- Moda, acessórios e artesanato: vestuário, calçados, joias, bolsas e chapéus brasileiros se destacam pela criatividade e estilo, com menos barreiras regulatórias;

- Alimentos e cosméticos naturais: cafés especiais, doces artesanais, temperos, snacks e cosméticos à base de ingredientes naturais têm alto apelo, mas exigem mais preparo técnico e sanitário.

Os principais desafios

- Logística: frete, seguro e armazenagem ainda são caros para quem produz em pequena escala;

- Burocracia: normas técnicas, sanitárias e aduaneiras variam de país para país;

- Câmbio e financiamento: a oscilação cambial e a falta de crédito específico dificultam a previsibilidade;

- Barreiras culturais e idioma: desconhecimento do mercado e das práticas comerciais locais pode ser um obstáculo.

Digitalização como atalho para o exterior

Plataformas de e-commerce e marketplaces internacionais têm ajudado pequenas empresas a vencer distâncias e reduzir custos. Segundo Reis, ferramentas digitais também facilitam pagamentos, promoção de produtos e gestão logística, inclusive com uso de PIX internacional.

PME brasileira exporta serviços para Nestlé, AbInbev e Mercado Livre

A agência All Set Comunicação é um exemplo de PME que conseguiu transformar o know-how brasileiro em um ativo exportável — e altamente valorizado — por marcas globais. Com 12 anos de mercado, a empresa presta serviços de marketing in-house para gigantes como Nestlé, AbInbev e Mercado Livre, com operações que vão do Brasil aos Estados Unidos, passando por Suíça, Argentina e México.

“Começamos com a Nestlé no Brasil e, em pouco tempo, passamos a atender mais de oito áreas diferentes da companhia, inclusive em outros países. Hoje atuamos também para a AbInbev nos EUA e para o Mercado Livre em três mercados distintos”, conta Yaskara Kawasaki, diretora de operações da All Set Comunicação.

Entre os serviços exportados, estão: campanhas de conteúdo, e-mail marketing, desenvolvimento de régua de comunicação, ambientação de pontos de venda, mensagens automáticas em aplicativos e projetos criativos completos. Tudo é desenvolvido pela equipe no Brasil, respeitando as diretrizes globais das marcas e adaptado às particularidades culturais de cada país. “Não adianta replicar o que funciona aqui. É preciso entender o consumidor local. Esse é um dos maiores desafios da internacionalização”, afirma Yaskara.

Apesar de sempre ter vislumbrado uma atuação internacional, a expansão da All Set aconteceu de maneira orgânica, de acordo com ela. “Sabíamos da importância de ter uma presença global, mas nosso foco inicial foi construir uma base sólida no Brasil. A partir daí, as oportunidades foram surgindo. As empresas nos procuraram, confiando no nosso trabalho por aqui.”

Essa confiança, no entanto, exigiu preparação. A empresa teve de lidar com entraves burocráticos, como abertura de CNPJ no exterior e adaptação a processos e cadastros internacionais. Além disso, por atender grandes companhias auditadas, precisou estruturar-se com critérios ESG e boas práticas de remuneração justa para toda a cadeia.

Hoje, com cerca de 190 funcionários — alguns deles na Argentina e no México —, a All Set encara novos desafios: o avanço da inteligência artificial impacta diretamente a demanda por mão de obra. “Antes, um projeto exigia 10 profissionais. Agora, com IA, conseguimos resolver com 7. Isso exige readequações constantes da equipe”, explica Yaskara.

Ela acredita que iniciativas de incentivo à exportação de serviços são importantes, mas reconhece que o caminho ainda é árduo. “A pequena empresa está se consolidando no próprio país e, ao mesmo tempo, precisa passar confiança para atuar fora. É um salto duplo. O sistema tributário brasileiro também pesa, com muitas obrigações e carga alta mesmo em serviços exportados.”

Ainda assim, a experiência de trabalhar com marcas globais confirma uma máxima do mercado criativo: se dá certo no Brasil, onde a exigência é alta, pode funcionar em qualquer lugar. “O nível de entrega no mercado brasileiro é altíssimo. Isso nos prepara para competir com excelência lá fora”, conclui.

Vale a pena?

Reis acredita que o momento é favorável: há incentivos, acesso a plataformas internacionais e suporte técnico. “Com planejamento e apoio, exportar pode ser um salto no crescimento do negócio”, afirma. Mas reforça que a decisão exige maturidade da empresa e competitividade do produto.

Apoios disponíveis

- Sebrae: consultorias, cursos e o programa Sebraetec (https://sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/sebraetec)

- ApexBrasil (https://apexbrasil.com.br/br/pt/solucoes/todas-as-solucoes/programa-de-qualificacao-para-exportacao---peiex.html) : com o Programa de Qualificação para Exportação (PEIEX) e participação em feiras internacionais

- Correios: Exporta Fácil (https://www.correios.com.br/acesso-a-informacao/licitacoes-e-contratos/credenciamentoexportafacilmais/exporta-facil)

- Plataformas: Brasil Exportação (https://brasilexportacao.com.br/) e Brasil Mais Produtivo (https://brasilmaisprodutivo.mdic.gov.br/)

- Ferramentas: como TradeMap (https://trademap.com.br/), ComexStat (https://comexstat.mdic.gov.br/pt/home) e relatórios da ApexBrasil e do Sebrae podem ajudar a identificar essas oportunidades.

PMEs já participam da balança comercial, mas têm espaço para crescer

Segundo dados de 2024 do Ministério da Economia, microempresas e MEIs somam 5.952 exportadores; pequenas, 5.480. Juntas, representam 40,5% das empresas que exportam, mas ainda com baixo peso no valor total exportado. Isso indica um campo fértil para crescer — com estratégia e preparação.